quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Palmas para o mestre Valdir de Moraes

Quem já frequentou um treino, entrou num vestiário, viajou com algum time e viu um jogo de futebol com o olhar que não seja o do torcedor sabe que o futebol é um mundo que reúne todo tipo de gente. De malandros a homens de família, de craques a enganadores, de mentirosos a estelionatários, de amadores a apaixonados... Enfim, o futebol não é diferente da vida, e move-se levado pela diversidade que permeia todos os segmentos da sociedade. Assim é que, se você está dentro da engrenagem, é preciso saber separar o joio do trigo e escolher bem com quem anda. Afinal, são poucos os sujeitos confiáveis com quem se pode trocar uma confidência desprovida de algum interesse escuso.

Fiz todo esse prólogo (que eu, como editor, condenaria em qualquer texto...sorry) para registrar aqui uma singela homenagem a Valdir Joaquim de Moraes, que hoje completa 80 anos. O mestre de todos os goleiros brasileiros é dessas pessoas que viram referência na nossa vida e acabam se distinguindo na paisagem. Entre tantos personagens que a gente olha com desconfiança, seo Valdir é a certeza de que o futebol também agrega gente do bem, que não coloca seus interesses pessoais acima de todas as coisas. 

O ex-goleiro Valdir de Moraes tem sua história ligada ao Palmeiras, clube que defendeu lá pelos anos 50/60. Eu praticamente não o vi jogar. Já vim conhecê-lo como treinador de goleiros do próprio Palmeiras -- função, aliás, que ele inventou no futebol mundial. E vi como sua competência na transmissão dos ensinamentos e segredos da posição foram fundamentais para o surgimento e consolidação da carreira de alguns dos maiores arqueiros do país. Se fosse só para citar quatro, lembraria de Ronaldo, Zetti, Marcos e Rogério Ceni. Precisa de mais?

Na incansável preparação dos goleiros, seo Valdir desenvolveu a qualidade e eficiência do chute. Dizem todos os especialistas na arte de jogar futebol que ele é um dos caras que melhor batem na bola no Brasil, na mesma medida de Marcelinho Carioca, por exemplo. Também, pudera! Vi inúmeros treinos em que seo Valdir chutou mais de 500 bolas para seus goleiros. E a repetição por certo o levou à perfeição.

Mas era fora de campo que, para mim, o mestre dos goleiros revelava suas melhores qualidades e competências. Eu sempre admirei a forma como ele controla o tom de voz, seja dando treino, seja dando entrevista, seja conversando numa roda de amigos. Nunca o ouvi subir o tom. Sua voz sempre me pareceu sinônimo de segurança. Talvez por isso tenha sido o protetor e conselheiro de vários técnicos famosos com quem teve a honra de trabalhar. Wanderley Luxemburgo, por exemplo, chama-o de pai.

Minha relacão com ele não chegava a esse ponto. Mas devo a ele uma das maiores reflexões que já fiz na vida. Um dia eu tinha revelado a ele que, quando garoto, cheguei a sonhar em ser goleiro. Tinha até foto vestido todo de preto, como os goleiros dos anos 60. Tempos depois, ele me encontrou em Atibaia, num jogo da imprensa contra a comisão técnica do Corinthians, na época liderada por Luxemburgo. Eu joguei no meio-campo e praticamente não peguei na bola. Nosso time levou uma goleada...

No final da partida, entre um copo de cerveja e outro no churrasco de confraternização, seo Valdir chegou perto de mim, me puxou pelo braço e disparou, com aquele ar de paixão: "É meu filho, era melhor você ter seguido a vocação de goleiro, porque de volante não dá..."

Obrigado pelo conselho, seo Valdir. Parabéns por mais este aniversário. O futebol e a vida precisam de gente como você!

NN

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Planejamento? O que é isso?

Em 32 anos de jornalismo, a maioria deles correndo atrás da bola no Brasil e no mundo, creio que a palavra que mais vezes ouvi repetida a esmo foi planejamento. Parece que dá status falar em planejamento no futebol, na medida em que qualquer projeto bem realizado passa a ser um diferencial. Mesmo que o sucesso seja por acaso. Até porque, a bem da verdade, o que eu vi ao longo dessas três décadas foram muitos mais casos de falta de planejamento. Mesmo com muitos avanços, ainda se trata profissionalmente do futebol de forma amadora, com processos de gestão que não obedecem a nenhum critério científico. É um verdadeiro bumba meu boi!!!

Três episódios dessa semana demonstram bem o que estou falando e confirmam a sensação de que a linha que separa o sucesso do fracasso é quase invisível no futebol brasileiro. Vamos aos fatos:

Falta de planejamento 1: A estúpida demissão de Caio Júnior
    É inacreditável que ainda se aceite esse tipo de coisa como algo no mínimo razoável. A três rodadas do final do campeonato, o dirigente demite o treinador imaginando, sabe-se lá como, que algum ser superior vá assumir o cargo e fazer uma mágica nos últimos jogos. Se não deu com Caio Júnior, o genérico, que venha logo um verdadeiro Harry Potter!

É bem verdade que muitas empresas também agem assim, ao sabor das vendas e dos borderôs, mudando executivos, contratando consultorias milagrosas e impondo novos objetivos sem que os velhos tivessem sua ineficiência comprovada. É o tal do imediatismo empresarial _ que, no futebol chega às raias da burrice absoluta. Dispensar o técnico é a tábua de salvação de todas as gestões incompetentes.

 Será que no Botafogo ninguém se deu conta que Caio Júnior fez mais do que era possível com um time limitado? Será que o presidente acredita mesmo que, com essa mudança desesperada, ficará mais fácil chegar à vaga na Libertadores? Será que alguém não se atentou para o fato de que, a três rodadas do final, não há nenhum treinador competente disponível no mercado para suceder o demitido? Isso é falta de visão. O ano vai acabar daqui três semanas,e os dirigentes atropelam o calendário dessa forma, impunemente.

No máximo, essa grande besteira só vai servir para confirmar a velha tese de que tem coisas que só acontecem com o Botafogo....

Falta de planejamento 2: o estranho caso de Dagoberto
    Gostaria muito de poder entender o que se passa com Dagoberto no São Paulo. Já ouvi falar de tudo sobre ele, mas, sem prova, nunca comprei as versões de que ele é igrejeiro, chinelinho e laranja podre. O que é gozado é que, mesmo com toda essa fama de bad boy, Dagoberto é um dos mais antigos desse elenco do São Paulo e, sempre que jogou, esteve pelo menos na média dos outros atletas. Neste momento, aliás, era o melhor do time.

De repente, o técnico Leão deixa-o no banco, em Curitiba, para atacar o Atlético-PR com a temível dupla Henrique-Fernandinho. Pior, na subsituição que fez para tentar evitar a derrota, Leão mandou Marlos a campo, dando a entender que Dagoberto era a quarta opção.

O pior de tudo isso é a suspeita de que Dagoberto não jogou por ordem do presidente Juvenal Juvêncio. Que ele é mesmo dado a meter o bedelho no time todo mundo sabe, o que é dificíl acreditar é que Leão tenha se prestado a esse papel de vaquinha de presépio. De uma forma ou de outra, eis mais um belíssimo exemplo de falta de planejamento. O melhor atacante do grupo, utilizado o ano todo, vai para a reserva justamente no momento em que o time precisava vencer para sonhar com a Libertadores. E perdeu. Bem feito!

Falta de planejamento 3: a inacreditável ressurreição de Ramirez

Nem o mais fanático corintiano poderia imaginar que a vitória sobre o Ceará saísse dos pés de Cachito Ramirez. Até porque pouquíssimos corintianos ainda se lembravam dele. Para muita gente, ainda sofrida com aquele vexame mundial da derrota para o Tolima, Ramirez já estava longe do Parque São Jorge... Mas que nada!

Nesse futebol onde o planejamento só aparece no discurso, eis que, como por encanto, o técnico resolve ressuscitá-lo. E eu duvido que alguma vez Tite testou Ramirez no lugar de Danilo. Nem em treino secreto! Nem no jogo de botão! Nem no Play Station!!

Aqui entre nós, o peruano nunca foi opção do treinador para nada, tanto que Tite cansou se insistir com Morais (meu Deus, como ele pode jogar no Corinthians????), Edenílson, Jorge Henrique e até Moradei e Taubaté. Mas, do nada, Tite mandou Ramirez a campo e ambos saíram dele como heróis.

Ouvi muita gente dizendo que aquela foi uma vitória com o dedo de Tite. Como se o treinador tivesse planejado o final feliz da mais das improváveis substituições do campeonato brasileiro deste ano. Ah, tá bom. Agora vai dizer que ele também acredita em Papai Noel, Saci-Pererê e na Loira do Espelho...

NN

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Como não se faz um campeão

Não é só com bons jogadores que se faz um time campeão. Vá lá que ter um bom goleiro, um zagueiro tipo xerifão, pelo menos um volante que saiba fazer um passe de dois metros, um cara genial na criação no meio de campo e um goleador lá na frente ajuda bastante... mas nem sempre esses ingredientes garantem uma receita de sucesso. Para ser campeão, de qualquer coisa na vida, as equipes precisam de atributos que nem sempre são perceptíveis à maioria dos espectadores. Estamos falando de um conjunto de qualidades intangíveis que formam o que se chama de alma de campeão.

A partir desse raciocínio, é justo dizer que este Brasileirão não deveria ter nenhum campeão, pois não há um time que mereça a glória de levantar a taça ao final da competição. Aliás, já nos últimos dois anos, sem demérito a Flamengo e Fluminense, os campeões não foram produtos dos próprios méritos e sim se valeram da incompetência dos adversários. O mesmo desfecho se desenha agora. É como se ninguém tivesse competência para ser campeão, deixando a decisão ao acaso, ao sabor das combinações de resultados produzidos pelos caprichos da bola.

O exemplo do Corinthians, líder há mais de 20 rodadas, é o mais grave. O time pode até engrenar nas últimas cinco rodadas, ganhar todos os jogos e ser campeão com folga. Mas não há na face da terra nenhum torcedor, nem o mais fanático gavião, que tenha essa convicção, pois que esse time de Tite não inspira confiança. E mal merece respeito, porque mal respeita as tradições do clube do povo. O que se viu em Uberlândia foi o retrato de um time que não confia nas próprias pernas e espera chegar ao título com a ajuda dos outros.

Em resumo, o Corinthians que perdeu do lanterninha do campeonato é um time sem alma de campeão. Do contrário, teria partido com tudo para cima do adversário, buscando a vitória a qualquer preço, ainda mais sabendo que o Santos derrotava o Vasco na Vila Belmiro, o que lhe abria a possibilidade de folgar na liderança. Mas, que nada! O Corinthians de Uberlândia foi um time medroso, covarde, inseguro, nervoso, que trocou a vontade de ganhar pelo medo de perder e pagou caro por essa postura. Quando tentou segurar o empate, achando que já era um bom negócio fora de casa, foi castigado com o segundo gol dos mineiros, que nem estavam mais acreditando no resultado. Já dizia o filósofo Luxemburgo que o medo de perder tira a vontade de ganhar. É frase feita, mas verdadeira.

É revisionista e simples demais tentar jogar a culpa no técnico Tite. Sim, claro, ele também tem culpa, pois joga o time para trás, substitui mal (por que diabos ele sempre tira o William no segundo tempo, mesmo quando todos os outros 10 jogadores estão atuando abaixo da média???) e tenta segurar os resultados com um pragmatismo que quase nunca está vinculado aos times vencedores da história do futebol mundial. Mas, convenhamos, Tite não pode pagar a conta sozinho. Os jogadores, todos eles, devem ratear a culpa pela derrota, como rateiam os bichos pelas vitórias. Do goleiro ao ponta-esquerda, todos se omitiram numa hora decisiva, num jogo que, pelas circunstâncias, poderia ter decidido o campeonato. Aliás, há muita gente que entende que o Corinthians perdeu o título com essa derrota.

Sei que se o Corinthians, amanhã, for campeão, Tite e os jogadores vão querer nos fazer engolir essa e outras críticas do gênero. Eles sempre agem assim para driblar o incômodo de admitirem suas fraquezas. É o efeito Zagallo. Como o futebol é movido por resultados, os vencedores se acham imunes às críticas e, especialmente, aos críticos. Mas eles ganhariam mais se soubessem reconhecer que o futebol, como um jogo que mexe com a paixão de milhões de pessoas, deve ser visto além do horizonte dos placares e das decisões dos títulos.

Vale lembrar que o Corinthians não é o único que se possa jogar nessa vala dos times sem alma de campão. O mesmo se atribui a Vasco, Botafogo, Flmengo e São Paulo, por exemplo, que chegaram a estar na liderança do campeonato e jamais souberam se impor como líderes. O mesmo se pode dizer de Cruzeiro e Palmeiras, que do outro lado da tabela desonram seu passado de glória e se veem ameaçados pelo rebaixamento.

Definitivamente, esse campeonato vai ficar marcado como o maior exemplo de como não se faz um campeão. O campeão, seja ele qual for, que me perdoe.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Neymar, o melhor do mundo

Eis que, finalmente, a Fifa e a revista France Football se deram conta que existe futebol de qualidade além das fronteiras da Europa. Já estava na hora de eles caírem na real e reconhecerem que a eleição do melhor jogador do mundo na temporada não pode se restringir ao Velho Continente. Vá lá que precisou surgir um talento como Neymar para os europeus se darem conta de que podiam estar, no mínimo, adotando um comportamento preconceituoso, senão injusto com craques espalhados pelo mundo.

Neymar, colocado numa pré-seleção dos 50 melhores, já foi reclassificado para o corte que desembocou numa lista com 23 candidatos ao prêmio de melhor do mundo. E, convenhamos, se não houver marmelada nessa votacão, o brasileiro deve ir passando por todos os filtros, até chegar, pelo menos, entre os três maiores jogadores do planeta bola. Provavelmente ao lado do argentino Messi e qualquer um outro _ seja ele quem for, por certo não há de chegar aos pés desses dois monstros.

O Diário de S.Paulo de hoje traz uma interessante reportagem em que compara a performance dos dois jogadores no período em que ambos iniciavam a carreira. E os números são absolutamente favoráveis a Neymar. Isso não quer dizer que ele é, cientificamente, melhor do que o argentino. Mas aponta para uma certeza revelada por gente que entende muito de bola, como Pelé e Muricy. Para os dois, a escolha de Neymar como o melhor jogador do mundo é uma questão de tempo. Se não for ainda este ano, certamente não vai passar de 2014, ano da Copa, ano programado para a exuberância do futebol de Neymar encantar o mundo.

A Fifa e a France Football não fariam favor nenhum se concedessem, já este ano, o troféu Bola de Ouro para o menino craque do Santos. Pois, ninguém como ele, em nenhum lugar do mundo, fez do futebol um exercício de magia e diversão. Neymar joga profissionalmente como um menino que brinca no campinho do bairro, incluída nessa licença poética toda a carga de picardia, alegria, ousadia e irreverência que só se encontra no imaginário de cada um de nós. Neymar brinca com a bola, e se diverte. Por isso não se cansa de jogar, mesmo estando perto de superar o limite desumano de 60 partidas na temporada.

Neymar é desses talentos que nascem predestinados. Ora lembra Pelé, ora Maradona. Ora é Zico, Platini, Garrincha, Didi, Puskas, Di Stéfano...Quando não é uma mistura de todos eles ao mesmo tempo, como se fosse um desses jogadores de Playstation, aos quais a gente pode dar atributos e competências especiais. Neymar é top em velocidade, criatividade, arranque, domínio de bola, preparo físico, visão de jogo, finalização, drible...Neymar não parece real, parece mais um avatar construído pelos nossos sonhos de um jogador ideal. Neymar é tudo o que a gente quis ser um dia.

O menino que encanta os torcedores e leva ao delírio as fãs é uma máquina de jogar bola. E só não será eleito o melhor do mundo este ano se a Fifa e a FF acharem que ainda não é hora de deixar de fazer média para fazer justiça.

Os deuses da bola estão de olho e vão cobrar o resultado das urnas. Se meu voto puder mudar alguma coisa, ele já está dado. Neymar em primeiro e o resto em segundo lugar!