segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Como não se faz um campeão

Não é só com bons jogadores que se faz um time campeão. Vá lá que ter um bom goleiro, um zagueiro tipo xerifão, pelo menos um volante que saiba fazer um passe de dois metros, um cara genial na criação no meio de campo e um goleador lá na frente ajuda bastante... mas nem sempre esses ingredientes garantem uma receita de sucesso. Para ser campeão, de qualquer coisa na vida, as equipes precisam de atributos que nem sempre são perceptíveis à maioria dos espectadores. Estamos falando de um conjunto de qualidades intangíveis que formam o que se chama de alma de campeão.

A partir desse raciocínio, é justo dizer que este Brasileirão não deveria ter nenhum campeão, pois não há um time que mereça a glória de levantar a taça ao final da competição. Aliás, já nos últimos dois anos, sem demérito a Flamengo e Fluminense, os campeões não foram produtos dos próprios méritos e sim se valeram da incompetência dos adversários. O mesmo desfecho se desenha agora. É como se ninguém tivesse competência para ser campeão, deixando a decisão ao acaso, ao sabor das combinações de resultados produzidos pelos caprichos da bola.

O exemplo do Corinthians, líder há mais de 20 rodadas, é o mais grave. O time pode até engrenar nas últimas cinco rodadas, ganhar todos os jogos e ser campeão com folga. Mas não há na face da terra nenhum torcedor, nem o mais fanático gavião, que tenha essa convicção, pois que esse time de Tite não inspira confiança. E mal merece respeito, porque mal respeita as tradições do clube do povo. O que se viu em Uberlândia foi o retrato de um time que não confia nas próprias pernas e espera chegar ao título com a ajuda dos outros.

Em resumo, o Corinthians que perdeu do lanterninha do campeonato é um time sem alma de campeão. Do contrário, teria partido com tudo para cima do adversário, buscando a vitória a qualquer preço, ainda mais sabendo que o Santos derrotava o Vasco na Vila Belmiro, o que lhe abria a possibilidade de folgar na liderança. Mas, que nada! O Corinthians de Uberlândia foi um time medroso, covarde, inseguro, nervoso, que trocou a vontade de ganhar pelo medo de perder e pagou caro por essa postura. Quando tentou segurar o empate, achando que já era um bom negócio fora de casa, foi castigado com o segundo gol dos mineiros, que nem estavam mais acreditando no resultado. Já dizia o filósofo Luxemburgo que o medo de perder tira a vontade de ganhar. É frase feita, mas verdadeira.

É revisionista e simples demais tentar jogar a culpa no técnico Tite. Sim, claro, ele também tem culpa, pois joga o time para trás, substitui mal (por que diabos ele sempre tira o William no segundo tempo, mesmo quando todos os outros 10 jogadores estão atuando abaixo da média???) e tenta segurar os resultados com um pragmatismo que quase nunca está vinculado aos times vencedores da história do futebol mundial. Mas, convenhamos, Tite não pode pagar a conta sozinho. Os jogadores, todos eles, devem ratear a culpa pela derrota, como rateiam os bichos pelas vitórias. Do goleiro ao ponta-esquerda, todos se omitiram numa hora decisiva, num jogo que, pelas circunstâncias, poderia ter decidido o campeonato. Aliás, há muita gente que entende que o Corinthians perdeu o título com essa derrota.

Sei que se o Corinthians, amanhã, for campeão, Tite e os jogadores vão querer nos fazer engolir essa e outras críticas do gênero. Eles sempre agem assim para driblar o incômodo de admitirem suas fraquezas. É o efeito Zagallo. Como o futebol é movido por resultados, os vencedores se acham imunes às críticas e, especialmente, aos críticos. Mas eles ganhariam mais se soubessem reconhecer que o futebol, como um jogo que mexe com a paixão de milhões de pessoas, deve ser visto além do horizonte dos placares e das decisões dos títulos.

Vale lembrar que o Corinthians não é o único que se possa jogar nessa vala dos times sem alma de campão. O mesmo se atribui a Vasco, Botafogo, Flmengo e São Paulo, por exemplo, que chegaram a estar na liderança do campeonato e jamais souberam se impor como líderes. O mesmo se pode dizer de Cruzeiro e Palmeiras, que do outro lado da tabela desonram seu passado de glória e se veem ameaçados pelo rebaixamento.

Definitivamente, esse campeonato vai ficar marcado como o maior exemplo de como não se faz um campeão. O campeão, seja ele qual for, que me perdoe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário