quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tem coisas que só acontecem com o Moradei...

O sábio Carlos Alberto Parreira já dizia que o gol é um mero detalhe do futebol. Aliás, quando disse isso, o técnico quase foi condenado à forca, porque muita gente entendeu, naquele contexto, que ele defendia um futebol jogado sem objetivo, sem desejo de vitória. Eu também embarquei nessa e só depois de muito tempo, numa conversa com Parreira nos bastidores de um programa de televisão, é que eu entendi o que de fato ele queria dizer. Na sua teoria, tamanha era a horizontalização dos processos do futebol em todo o mundo (treinos iguais, equipamentos iguais, táticas iguais, competências iguais em vários países), o placar de um jogo quase sempre era construído em cima de pequenos detalhes que escapavam de um planejamento. Para Parreira, o resultado de um jogo, muitas vezes, atendia aos desígneos da bola e não a uma semana de treinamento bem feito.

Lembrei de toda essa teoria, certamente ainda contestada por muita gente que entende de bola, para tentar encontrar uma explicação para a belíssima vitória do Botafogo sobre o Corinthians, ontem, no Pacaembu. Sem deixar de considerar que o Botafogo fez, taticamente, um primeiro tempo quase perfeito, acho que a tese do Parreira serve bem para explicar os 2 a 0. Afinal, se você, raro leitor, pegar o scout do jogo, verá que o Corinthians criou infinitas chances de gol a mais que o Botafogo; teve 20 escanteios a favor e só um contra, chutou 24 vezes ao gol contra 6 arremates dos cariocas, atuou boa parte do jogo com 11  contra 10, contou com 30 mil fiéis empurrando o time nas arquibancadas...E perdeu! Com tudo isso, deu Botafogo...

É dessa irracionalidade matemática do futebol que Parreira falava quando disse que o gol é só um detalhe. Quem comparar os números não há de acreditar no resultado final. Capricho da bola ou seja lá o que for, é essa imprecisão que faz do futebol o jogo mais apaixonante do planeta.

E vejam como o tal detalhe faz  mesmo a diferença. Nos dois gols do Botafogo a bola desviou em Moradei e matou o goleiro Júlio César. Dali pra frente, o Corinthians teve muitas chances de marcar, mas ficou no zero porque, em pelo menos três ocasiões, a bola desviou em Marcelo Mattos e foi pra fora. O azar de um foi a sorte do outro. A glória de um foi o castigo do outro.

Está claro que não se pode contestar a vitória do Botafogo, que poderia até ser mais contundente se o bandeirinha não tivesse anulado um dos gols mais legítimos da história do futebol mundial. Mas, vendo os dois lances em que a bola desvia no corintiano n vai para a rede, dá vontade de reinventar uma célebre frase do futebol brasileiro, eternamente atrelada aos percalços do Botafogo. Tem coisas que só acontecem com o Moradei...

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